sexta-feira, 28 de março de 2014

Resenha: O primeiro aluno da classe




     Brad nasceu com a Síndrome de Tourette, uma doença neurológica que envia sinais indesejáveis  para seu cérebro e faz com que ele diga ou faça coisas involuntariamente. Ele não tem controle dos sons que produz e, quando se sente estressado, os sintomas pioram surgindo alguns tiques mais fortes, como “puxadas de pescoço”, mexer do braço, entre outros. Dede criança, quando ainda não havia muitas informações sobre a doença, ele tem sofrido com o preconceito de colegas de classe, professores e até mesmo diretores que não conseguem acreditar que Brad não consiga evitar fazer os sons que faz e atrapalhar a concentração dos colegas de turma. 

       Alguns deles até o forçaram a deixar a escola por que o menino estava impossível de se lidar, achavam que era apenas pertinência e petulância do garoto. Apesar de ter passado por vários médicos, inclusive psiquiatras, foi a mãe do garoto que buscou incansavelmente uma resposta. Ela precisava ao menos saber a causa, o nome, do que fazia com que seu filho sofresse tanto, até mesmo com o pai que não conseguia aceitar a deficiência do filho. Buscando em livros de Medicina, a mãe de Brad encontrou a síndrome que encaixava com todos os sintomas do filho: Tourette. 

    Depois disso, encontraram uma escola que o aceitasse, mas o sofrimento era o mesmo: mesmas chacotas, mesmas advertências, mais do mesmo. Até que um dia o diretor desta escola chama Brad ao palco depois de uma sessão da orquestra da escola (que, vale notar, ele não queria ir, por achar que seus tiques estragavam a música) em que o menino fez os mesmos barulhos de sempre. O diretor o chamou à frente e deixou que a própria criança explicasse o porquê de suas ações involuntárias. Tomado por uma grande admiração, desde esse dia, Brad decidiu ser professor e passar o conhecimento e a formação como cidadãos críticos através de suas aulas. Brad enfrenta, como previsto, uma série de dificuldades.

      Ninguém acredita que ele consiga ensinar com os barulhos que ele faz e seus tiques de movimentos. Mas Brad nunca deixou que sua companheira constante (Tourette) o vencesse, ao contrário, tornou-a sua maior aliada e um de seus argumentos como filosofia de ensino. O filme é comovente e nos mostra em suas diversas situações, como as pessoas tem dificuldade em se adaptar a situações que as deixam desconfortáveis e/ou incomodadas. Traz-nos a lição de que “Está tudo bem em ser diferente” e que essas diferenças acabam por fazer a maior diferença em nossas vidas, dependendo de como escolhermos lidar com elas.

Nathaly M.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Resenha: Decisões Extremas



http://www.aceshowbiz.com/still/00004910/extraordinary_measures10.html
Harrison Ford interpreta o Dr. Stonehill



     John Crowley é pai de dois filhos que possuem uma doença chamada Pompe que prejudica seus músculos causando uma distrofia. No início, a doença não é tão perceptível, mas com o tempo os músculos em geral são prejudicados gradualmente; sendo que, em sua fase terminal, os músculos responsáveis pela respiração e pelo sistema cardiovascular não têm força o suficiente para manter as funções vitais do indivíduo, causando sua morte ainda na infância.
   
    Desesperado com o destino, aparentemente, cada vez mais inevitável de seus filhos, John não desiste e começa a procurar por alguém que tenha a capacidade de ajudá-lo a reverter a situação. Pesquisando por arquivos, encontra a pesquisa desenvolvida por Robert Stonehill que consiste em uma enzima que melhora a função e capacidade dos músculos exatamente na fonte do problema da doença de Pompe. Apesar de ser um tiro no escuro, depois de muitas ligações não atendidas, John dirige até a cidade em que o pesquisador mora e expõe seu problema, oferecendo ajuda para desenvolver a pesquisa de Robert, incluindo a parte financeira e apoio de um laboratório. 

      A mulher e os filhos de John enchem-se de esperanças ao conhecer o pesquisador que teve a idéia e a elaboração da possível cura dos pequenos. Após uma longa jornada de busca por apoio, doações, burocracia, impasses de questões de pesquisa (ética, processo, material, vieses etc.) e questões pessoais (conflito de interesses, pressões por parte de John ao pesquisador para acelerar a obtenção de resultados), John consegue fazer com que a pesquisa comece a ser desenvolvida e recarrega suas esperanças, cada vez mais certo de que logo terá sua filha com a saúde revigorada. 

   Este filme nos faz refletir sobre diversas questões quando se trata de doenças terminais: até quando devemos levar o pensar científico e ignorar a realidade das pessoas que sofrem com determinada doença em nome da objetividade da pesquisa? Até onde podemos agir por desespero em nome da sobrevivência de alguém que se ama? Essas e outras perguntas são exploradas dentro deste filme emocionante. Também podemos ver na filha de John, Megan, como mesmo as crianças com seu suposto desconhecimento dos problemas da vida, podem acabar lidando com os problemas de saúde muito melhor que adultos. Talvez até porque suas mentes e seus sentimentos ainda não foram tomados pelos sentimentos turvos advindos com os problemas e responsabilidades da vida adulta.

Nathaly M.

terça-feira, 25 de março de 2014

Resenha: Mar Adentro


            Essa é minha primeira resenha que é publicada. Pretendo fazer de livros também, mas estou esperando o término da minha releitura de dois dos meus favoritos para "começar com chave de ouro" se me permitem o trocadilho.



        Ramón é tetraplégico, ficou nesta condição após dar um mergulho em águas rasas no mar e lesionar o pescoço, prejudicando uma de suas vértebras cervicais. Desde sua juventude está preso a uma cama, pois não utiliza sua cadeira de rodas. Diz que assim estaria aceitando sua condição de deficiente. Apesar de sua condição física, Ramón não deixou de fazer o máximo de atividades possíveis: pinta e escreve poemas com a boca, com ajuda de aparelhos adaptáveis; ajuda seu pai e sobrinho com consertos mecânicos ou de marcenaria ao dar-lhes conselhos; dá entrevistas na TV etc. 

    Porém, mesmo conseguindo lidar com seu atual estado de saúde, Ramón encontra-se cansado e frustrado, pois não suporta mais as inúmeras intervenções médicas nem as limitações impostas pela realidade atual. Ele considera que não pode sequer ser capaz de amar uma mulher, pois não poderia satisfazê-la em toda sua plenitude devido à sua deficiência. Há muito tempo, ele decidiu pôr fim ao seu sofrimento, recorrendo à eutanásia. no entanto, em seu país, a Espanha, essa prática não é legalizada e, dentre outros aspectos (psicológicos, biológicos, espirituais, morais e éticos), isto impõe uma série de obstáculos para que este homem consiga realizar sua vontade.

      Para mim, uma das melhores partes - além, é claro, dos argumentos muito bem elaborados por ramón para tomar sua decisão - é quando ele está sozinho em seu quarto. Por que? Porque quando está sozinho com seus pensamentos, sentindo saudades de sua grande paixão: o mar; Ramón se imagina, contra todas as leis biomédicas e físicas, levantando da cama, correndo e tomando impulso para saltar a janela e voar, isso mesmo, voar! Voando, ele atravessa uma das paisagens mais lindas da Espanha e reencontra sua antiga amante, a praia. Com sua areia branca e macia e seu mar azul, cintilante e, ao mesmo tempo, furiosamente belo.


       Outro momento marcante é a visita de um padre paralítico que tenta convencê-lo a desistir da ideia da morte a partir de seus dogmas religiosos. Ramón simplesmente rebate cada argumento levado pelo assistente do padre, que não pode subir as escadas porque sua cadeira não passa pela curva da escada, sendo o argumento sobre a santidade da vida, sobre sua dignidade, seus familiares, o sentimento deles em relação a ele assim como de seus amigos. Ramón o expulsa de casa e podemos ver na expressão do clérigo um olhar ao mesmo tempo de consternação e de abalo, um sentimento de quem acaba de ter seus princípios perturbados e que está repensando o que aprendeu por toda uma vida.


      Ramón, com seus argumentos, consegue que milhares de pessoas passem a refletir sobre a questão da eutanásia. As opiniões ficam divididas em duas, representadas em grande parte no filme pelas duas mulheres que surgem em sua vida neste momento tão crítico: uma advogada que luta a todo custo para que Ramón consiga ter autonomia sobre sua vida e uma mulher mis simples que o ama a tal ponto que decide reavivar seu desejo pela vida e tenta persuadi-lo a não por um fim nesta. 

     Este filme nos faz refletir sobre o que é certo ou errado quando se diz respeito à autonomia do paciente, não apenas como receptor de serviços de saúde, mas como pessoa, ser humano. Faz refletir sobre o quão longe podemos levar o sofrimento com base em questões jurídicas, morais/ espirituais e psicológicas. E, por último, nos faz refletir sobre o poder da humanidade com relação à vida: por que será que a vida (mesmo aquelas em que não há mais nada além de sofrimento, frustrações e cansaços) nos parece tão valiosa que, quando aparece alguém que sente que a sua perdeu esta qualidade, a decisão de não querê-la mais é extremamente inaceitável? É um filme que traz paradoxos impactantes e que, justamente por isso, vale muito a pena ser visto.

Nathaly M.


Sou Homem

Texto simplesmente perfeito sobre os estereótipos de gênero! Audacioso com base na simplicidade e clareza dos pontos abordados.
"Sou homem.
Quando nasci, meu avô parabenizou meu pai por ter tido um filho homem. E agradeceu à minha mãe por ter dado ao meu pai um filho homem. Recebi o nome do meu avô.
Quando eu era criança, eu podia brincar de LEGO, porque "Lego é coisa de menino", e isso fez com que minha criatividade e capacidade de resolver problemas fossem estimuladas.
Ganhei lava-jatos e postos de gasolina montáveis da HotWheels. Também ganhei uma caixa de ferramentas de plástico, para montar e desmontar carrinhos e caminhões. Isso também estimulava minha criatividade e desenvolvia meu raciocínio, o que é bom para toda criança.
Na minha época de escola, as meninas usavam saias e meus amigos levantavam suas saias. Dava uma confusão! E então elas foram proibidas de usar saias. Mas eu nunca vi nenhum menino sendo realmente punido por fazer isso, afinal de contas "Homem é assim mesmo! Puxou o pai esse danadinho" - era o que eu ouvia.
Em casa, com meus primos, eu gostava de brincar de casinha com uma priminha. Nós tínhamos por volta de 8 anos. Eu era o papai, ela era a mamãe e as bonecas eram nossas filhinhas. Na brincadeira, quando eu carregava a boneca no colo, minha mãe não deixava: "Larga a boneca, Juninho, é coisa de menina". E o pai da minha priminha, quando via que estávamos brincando juntos, de casinha, não deixava. Dizia que menino tem que brincar com menino e menina com menina, porque "menino é muito estúpido e, principalmente, pra frente". Eu não me achava estúpido e também não entendia o que ele queria dizer com "pra frente", mas obedecia.
No natal, minha irmã ganhou uma Barbie e eu uma beyblade. Ela chorou um pouco porque o meu brinquedo era muito mais legal que o dela, mas mamãe todo ano repetia a gafe e comprava para ela uma boneca, um fogãozinho, uma geladeira cor-de-rosa, uma batedeira, um ferro de passar.
Quando fiz 15 anos e comecei a namorar, meu pai me comprou algumas camisinhas.
Na adolescência, ninguém me criticava quando eu ficava com várias meninas.
Atualmente continua assim.
Meu pai não briga comigo quando passo a noite fora. Não fica dizendo que tenho que ser um "rapaz de família". Ele nunca me deu um tapa na cara desconfiado de que passei a noite em um motel.
Ninguém fica me dando sermão dizendo que eu tenho que ser reservado e me fazer de difícil.
Ninguém me julga mal quando quero ficar com uma mulher e tomo a iniciativa.
Ninguém fica regulando minhas roupas, dizendo que eu tenho que me cuidar.
Ninguém fica repetindo que eu tenho que me cuidar porque "mulher só pensa em sexo".
Ninguém acha que minhas namoradas só estavam comigo para conseguir sexo.
Ninguém pensa que, ao transar, estou me submetendo à vontade da minha parceira.
Ninguém demoniza meus orgasmos.
Nunca fui julgado por carregar camisinha na mochila e na carteira.
Nunca tive que esconder minhas camisinhas dos meus pais.
Nunca me disseram para me casar virgem por ser homem.
Nunca ficaram repetindo para mim que "Homem tem que se valorizar" ou "se dar ao respeito". Aparentemente, meu sexo já faz com que eu tenha respeito.
Quando saio na rua ninguém me chama de "delícia".
Nenhuma desconhecida enche a boca e me chama de “gostoso” de forma agressiva.
Eu posso andar na rua tomando um sorvete tranquilamente, porque sei que não vou ouvir nada como “Larga esse sorvete e vem me chupar”. Eu posso até andar na rua comendo uma banana.
Nunca tive que atravessar a rua, mesmo que lá estivesse batendo um sol infernal, para desviar de um grupo de mulheres num bar, que provavelmente vão me cantar quando eu passar, me deixando envergonhado.
Nunca tive que fazer caminhada de moletom porque meu short deixa minhas pernas de fora e isso pode ser perigoso.
Nunca ouvi alguém me chamando de “Desavergonhado” porque saí sem camisa.
Ninguém tenta regular minhas roupas de malhar.
Ninguém tenta regular minhas roupas.
Eu nunca fui seguido por uma mulher em um carro enquanto voltava para casa a pé.
Eu posso pegar o metrô lotado todos os dias com a certeza que nenhuma mulher vai ficar se esfregando em mim, para filmar e lançar depois em algum site de putaria.
Nunca precisaram criar vagões exclusivamente para homens em nenhuma cidade que conheço.
Nunca ouvi falar que alguém do meu sexo foi estuprado por uma multidão.
Eu posso pegar ônibus sozinho de madrugada.
Quando não estou carregando nada de valor, não continuo com medo pelo risco ser estuprado a qualquer momento, em qualquer esquina. Esse risco não existe na cabeça das pessoas do meu sexo.
Quando saio à noite, posso usar a roupa que quiser.
Se eu sofrer algum tipo de violência, ninguém me culpa porque eu estava bêbado ou por causa das minhas roupas.
Se, algum dia, eu fosse estuprado, ninguém iria dizer que a culpa era minha, que eu estava em um lugar inadequado, que eu estava com a roupa indecente. Ninguém tentaria justificar o ato do estuprador com base no meu comportamento. Eu serei tratado como VÍTIMA e só.
Ninguém me acha vulgar quando faz frio e meu “farol” fica “aceso”.
Quando transo com uma mulher logo no primeiro encontro sou praticamente aplaudido de pé. Ninguém me chama de “vagabundo”, “fácil”, “puto” ou “vadio” por fazer sexo casual às vezes.
99% dos sites de pornografia são feitos para agradar a mim e aos homens em geral.
Ninguém fica chocado quando eu digo que assisto pornôs.
Ninguém nunca vai me julgar se eu disser que adoro sexo.
Ninguém nunca vai me julgar se me ver lendo literatura erótica.
Ninguém fica chocado se eu disser que me masturbo.
Nenhuma sogra vai dizer para a filha não se casar comigo porque não sou virgem.
Ninguém me critica por investir na minha vida profissional.
Quando ocupo o mesmo cargo que uma mulher em uma empresa, meu salário nunca é menor que o dela.
Se sou promovido, ninguém faz fofoca dizendo que dormi com minha chefe. As pessoas acreditam no meu mérito.
Se tenho que viajar a trabalho e deixar meus filhos apenas com a mãe por alguns dias, ninguém me chama de irresponsável.
Ninguém acha anormal se, aos 30 anos, eu ainda não tiver filhos.
Ninguém palpita sobre minha orientação sexual por causa do tamanho do meu cabelo.
Quando meus cabelos começarem a ficar grisalhos, vão achar sexy e ninguém vai me chamar de desleixado.
A sociedade não encara minha virgindade como um troféu.
90% das vagas do serviço militar são destinadas às pessoas do meu sexo. Mesmo quando se trata de cargos de alto escalão, em que o oficial só mexe com papelada e gerência.
Se eu sair com uma determinada roupa ninguém vai dizer “Esse aí tá pedindo”.
Se eu estiver em um baile funk e uma mulher fizer sexo oral em mim, não sou eu quem sou ofendido. Ninguém me chama de "vagabundo" e nem diz "depois fica postando frases de amor no Facebook".
Se vazar um vídeo em que eu esteja transando com uma mulher em público, ninguém vai me xingar, criticar, apedrejar. Não serei o piranha, o vadio, o sem valor, o vagabundo, o cachorro. Estarei apenas sendo homem. Cumprindo meu papel de macho alpha perante a sociedade.
Se eu levar uma vida putona, mas depois me apaixonar por uma mulher só, as pessoas acham lindo. Ninguém me julga pelo meu passado.
Ninguém diz que é falta de higiene se eu não me depilar.
Ninguém me julgaria por ser pai solteiro. Pelo contrário, eu seria visto como um herói.
Nunca serei proibido de ocupar um cargo alto na Igreja Católica por ser homem.
Nunca apanhei por ser homem.
Nunca fui obrigado a cuidar das tarefas da casa por ser homem.
Nunca me obrigaram a aprender a cozinhar por ser homem.
Ninguém diz que meu lugar é na cozinha por ser homem.
Ninguém diz que não posso falar palavrão por ser homem.
Ninguém diz que não posso beber por ser homem.
Ninguém olha feio para o meu prato se eu colocar muita comida.
Ninguém justifica meu mau humor falando dos meus hormônios.
Nunca fizeram piadas que subjugam minha inteligência por ser homem.
Quando cometo alguma gafe no trânsito ninguém diz “Tinha que ser homem mesmo!”
Quando sou simpático com uma mulher, ela não deduz que “estou dando mole”.
Se eu fizer uma tatuagem, ninguém vai dizer que sou um “puto”.
Ninguém acha que meu corpo serve exclusivamente para dar prazer ao sexo oposto.
Ninguém acha que terei de ser submisso a uma futura esposa.
Nunca fui julgado por beber cerveja em uma roda onde eu era o único homem.
Nunca me encaixo como público-alvo nas propagandas de produtos de limpeza.
Sempre me encaixo como público-alvo nas propagandas de cerveja.
Nunca me perguntaram se minha namorada me deixa cortar o cabelo. Eu corto quando quero e as pessoas entendem isso.
Não há um trote na USP que promove minha humilhação e objetificação.
A sociedade não separa as pessoas do meu sexo em “para casar” e “para putaria”.
Quando eu digo “Não” ninguém acha que estou fazendo charme. Não é não.
Não preciso regrar minhas roupas para evitar que uma mulher peque ou caia em tentação.
As pessoas do meu sexo não foram estupradas a cada 40 minutos em SP no ano passado.
As pessoas do meu sexo não são estupradas a cada 12 segundos no Brasil.
As pessoas do meu sexo não são estupradas por uma multidão nas manifestações do Egito.
Não minimize uma dor que você não conhece."
(Camila Oliveira Dias).

sábado, 8 de março de 2014

terça-feira, 4 de março de 2014

At the gym

      - Eu tenho mesmo que ir? Pensei. Não, não pensei, apenas reclamei para mim mesma. Sabia muito bem que o ortopedista recomendara que eu fizesse musculação. De outra forma - mais cedo ou mais tarde - teria de fazer uma cirurgia na patela.
      Vamos aos fatos: 4 anos atrás, luxei a patela; fiz fisioterapia, mas continuei a sentir pontadas no ligamento entre o osso e o músculo. Dois anos depois do incidente, procurei o ortopedista que me indicou o motivo de minhas reclamações.
         Enfim, adiei por muito tempo, mas (traiçoeiro como tal) o tempo não me deixou escapar. Matriculei-me. Estava indo tudo muito bem - sempre está, nãe é? - até que os estereótipos tomaram conta do lugar.
      Aonde paramos mesmo? Sim! Eu reclamava para mim mesma sobre o fato de ir à academia. Nunca vi coisa tão maçante e mecânica! Sempre a mesma série de exercícios, mesma música, ninguém fala com ninguém. O máximo de interação que se obtém é olhar o outro através do espelho e disfarçar, claro! Porque, se não fingir que não estava olhando, não era interesse de um dos dois. Realmente.
        É justamente em uma dessas "interações" que fixo meu pequeno depoimento frustrado. Mulheres não têm privacidade, ou melhor não são respeitadas em academias! Estava eu, fazendo meus abdominais, quando olho para o espelho e vejo um homem me encarando. Até aí, normal (normal não, comum), acontece uma vez ou outra; mas, como eu já disse, eles disfarçam.

http://vishstudio.deviantart.com/art/Gym-buddy-131570379

Pawel Kuczynski

"As obras de Pawel Kuczynski fazem uma crítica precisa, ferrenha e penetrante contra a sociedade moderna.
Seus desenhos nos convidam a refletir sobre assuntos sérios que passam despercebidos por muitas pessoas".

O rouxinol e a rosa

Li essa fábula pela primeira vez quando tinha mais ou menos 10 anos. Não me lembro de ter chorado tanto e, ainda, saber exatamente o motivo de meu choro na infância como quando li esse texto. É uma linda metáfora mesmo na sua representação dos extremos de interesse financeiro e amores frustrados. Nathaly M.
 
"Ela disse que dançaria comigo se eu lhe trouxesse rosas vermelhas", exclamou o jovem Estudante, "mas em todo o meu jardim não há nenhuma rosa vermelha."

Do seu ninho no alto da azinheira, o Rouxinol o ouviu, e olhou por entre as folhas, e ficou a pensar.

"Não há nenhuma rosa vermelha em todo o meu jardim!", exclamou ele, e seus lindos olhos encheram-se de lágrimas. "Ah, nossa felicidade depende de coisas tão pequenas! Já li tudo que escreveram os sábios, conheço todos os segredos da filosofia, e no entanto por falta de uma rosa vermelha minha vida infeliz."

"Finalmente, eis um que ama de verdade", disse o Rouxinol. "Noite após noite eu o tenho cantado, muito embora não o conhecesse: noite após noite tenho contado sua história para as estrelas, e eis que agora o vejo. Seus cabelos são escuros como a flor do jacinto, e seus lábios são vermelhos como a rosa de seu desejo; porém a paixão transformou-lhe o rosto em marfim pálido, e a cravou-lhe na fronte sua marca."

"Amanhã haverá um baile no palácio do príncipe", murmurou o jovem Estudante, "e minha amada estará entre os convidados. Se eu lhe trouxer uma rosa vermelha, ela há de dançar comigo até o dia raiar. Se lhe trouxer uma rosa vermelha, eu a terei nos meus braços, e ela deitará a cabeça no meu ombro, e sua mão ficará apertada na minha. Porém não há nenhuma rosa vermelha no meu jardim, e por isso ficarei sozinho, e ela passará por mim sem me olhar. Não me dará nenhuma atenção, e meu coração será destroçado."

"Sim, ele ama de verdade", disse o Rouxinol. "Aquilo que eu canto, ele sofre; o que para mim é júbilo, para ele é sofrimento. Sem dúvida, o Amor é uma coisa maravilhosa. É mais precioso do que as esmeraldas, mais caro do que as opalas finas. Nem pérolas nem romãs podem comprá-lo, nem é coisa que se encontre à venda no mercado. Não é possível comprá-lo de comerciante, nem pesá-lo numa balança em troca de ouro".

"Os músicos no balcão", disse o jovem Estudante, "tocarão seus instrumentos de corda, e meu amor dançará ao som da harpa e do violino. Dançará com pés tão leves que nem sequer hão de tocar no chão, e os cortesãos, com seus trajes coloridos, vão cercá-la. Porém comigo ela não dançará, porque não tenho nenhuma rosa vermelha para lhe dar." E jogou-se na grama, cobriu o rosto com as mãos e chorou.

"Por que chora ele?", indagou um pequeno Lagarto Verde, ao passar correndo com a cauda levantada.

"Sim, por quê?", perguntou uma Borboleta, que esvoaçava em torno de um raio de sol.

"Sim, por quê?", sussurrou uma Margarida, virando-se para sua vizinha, com uma voz suave.

"Ele chora por uma rosa vermelha", disse o Rouxinol.

"Uma rosa vermelha?", exclamaram todos. "Mas que ridículo!" E o pequeno Lagarto, que era um tanto cínico, riu à grande.

Porém o Rouxinol compreendia o segredo da dor do Estudante, e calou-se no alto da azinheira, pensando no mistério do Amor.

De repente ele abriu as asas pardas e levantou vôo. Atravessou o arvoredo como uma sombra, e como uma sombra cruzou o jardim.

No centro do gramado havia uma linda Roseira, e quando a viu o Rouxinol foi até ela, pousando num ramo.

"Dá-me uma rosa vermelha", exclamou ele, "que cantarei meu canto mais belo para ti".

Porém a Roseira fez que não com a cabeça.