domingo, 4 de outubro de 2015

Para o inferno com as estatísticas!

     - Esse filme é uma merda!
     - De onde você tirou essa ideia Vanessa?
     Será que ele sabia que não era do filme que ela estava falando? Bem, sabendo ou não, a discussão continuou:
     - É óbvio que esse filme é péssimo, Fabrício! Ou você realmente acha que as relações hoje em dia são assim?
     - Sim, eu acho! Não entendo como você consegue ser tão fria a ponto de não aceitar que existam relacionamentos significativos.
    O filme em questão era sobre um casal que, de início, não se dava bem e, com o tempo, se conheceram melhor, culminando em uma relação significativa, com direito a expressão sincera dos sentimentos de um para o outro. Ou seja, uma comédia romântica.
     E era exatamente isso que Vanessa não conseguia entender. Como, em qualquer cenário possível, isso poderia funcionar? Talvez ela não entendesse porque as estatísticas baseadas em sua própria experiência demonstravam o contrário. A quantidade de relacionamentos que ela vira falhar, tanto dela quanto de conhecidos, era absurda!
     Fabrício era o oposto do ser masculino atual: ele acreditava em romances. E daí que o casal do filme não se desse bem no início? Por que raios isso impediria uma futura felicidade? Ele simplesmente não entendia o pessimismo de Vanessa quanto ao amor.
    Os dois eram amigos de infância. Estudaram juntos, porém foram para áreas diferentes na faculdade; mas mantiveram contato. Ele de humanas, ela de exatas. Acho que o leitor já imagina o resultado dessa mistura não é?
      Ela desligou a TV e foi lavar a louça na cozinha, ainda irritada. Ele ficou na sala, pensando que se, de alguma forma, pudesse convencê-la a entender e aceitar que duas pessoas tão diferentes quanto os personagens do filme... Vamos falar sério agora; duas pessoas tão diferentes quanto eles dois, pudessem ter um relacionamento, talvez ele conseguisse fazer com que ela o visse diferente. Não com os óculos da friendzone.
     Vanessa esfregava o prato com tanta raiva que havia espuma cobrindo toda a pia. Mas será que o Fabrício é tão bobo quanto era quando criança? Eu o chama para ver um filme. Daqueles aos quais não há necessidade de se prestar atenção, porque qualquer idiota já sabe o final; e ele simplesmente resolve discutir a dialética do romance em vez de notar que estou bem ao seu lado, totalmente produzida para um cinema em casa que, claramente, era um pretexto para ficarmos a sós!



     Ela sabia que isso nunca daria certo. Após ter conversado com várias amigas, decidiu bolar o plano do filme para "ver no que dava". Sempre gostou dele, mas era tímida e não sabia como demonstrar o que sentia; acabava agindo de modo totalmente oposto.
      Voltou para a sala. A batalha estava perdida.
      - Está ficando tarde. - ela disse, já desanimada - Tenho estágio amanhã.
      - Nossa, não poderia ter dito apenas para eu cair fora?
      - Ok, cai fora! - Ela disse, mas com aquele brilho travesso no olhar.
      Ele riu, pensando que faria tudo para tê-la ao seu lado.
      - Tchau. Vamos marcar de sair e nos divertirmos em breve, certo?
      - Certo, dessa vez você escolhe o que vamos fazer. Não quero discussões!
     Os dois se abraçaram. Dessa vez, durou mais do que o usual, Tempo o suficiente para que ele sentisse o cheirinho de melão do shampoo que ela usa. Tempo o bastante para que ela sentisse o roçar da barba por fazer em seu rosto. A quantidade exata de tempo para que ambos continuassem com vontade de pertencer um a o outro, o suficiente para tentar uma outra vez.
      Outro dia.


Nathaly M.
01/06/2014

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