terça-feira, 6 de março de 2012

Romance à moda moderna



Ele não é nada romântico. Nunca falou eu te amo de sopetão. Jamais fez planos impossíveis. Jurar amor eterno então, hunpf.

No início eu achava que era apenas timidez e me consolei com essa desculpa, criada por mim mesma. E a ausência de romantismo não me desiludia. Apenas fazia pensar que era uma espera, que seria devidamente compensada com o tempo. Se ele dizia que eu estava bonita, agradecia, mas ficava esperando um é a mais linda que já conheci. Se ele sorria, aguardava um abraço desses de cansar de ficar na ponta dos pés.

Esperava o romantismo se manifestar e perdia todas as demonstrações mais sinceras de afeto. Idealizar o amor foi um desperdício de tempo. Queria ouvir declarações prontas, promessas absurdas, frases dignas de fim de filme. Esperava refrões de músicas, versos únicos. E querendo tanto, a frustração só era maior.

Queria exageros ditos de um jeito bonito, que parecessem exclusivos. Durante meses, ele dizia verdades e eu buscava clichês. Não entendia que o amor também estava escondido em silêncios e olhares inocentes. Em palavras comuns, sem lágrimas, comoção excessiva, sem Almodóvar.

Enquanto ele era sincero, eu queria mentiras. Queria aquilo ali que vi na tv. Como chegar no supermercado e pedir um amor pronto. E ceguei pro amor sendo construído bem na minha frente. Jogava expectativas para cima dele, tentando abafar inseguranças minhas. Vai ver não reconheci porque não conhecia, tinha referências erradas, entortadas por conceitos surreais de amor e romantismo. Bom que percebi a tempo de me deleitar. Sei que seus sorrisos, quando vêm, são espontâneos. E até seus acessos de sinceridade não me doem. Fazem sorrir.
- Tá com saudade?
- Não, ué, nos vimos há 30 minutos.

O que me deixaria arrasada, agora me faz feliz. Sinto alívio por entender que amor não pede por exclusividade. Amor exercitado com leveza e suavidade não sobrevive sozinho. Não é a base da vida, não rege vontades e desejos, mas se mistura como açúcar em café, tirando o amargo e aumentando o sabor.

Claro que ainda peço afagos quando me cansa dirigir ou quando me sinto feiosa. Mas que venha como dengo e não como uma massagem de ego descarada, um predadorismo romântico, que busca usar o outro para se alimentar.

Como diz minha mãe, a gente não nasce grudado em ninguém. Só na mãe mesmo, e ainda assim, somos separados imediatamente. Viver a dois é viver bem sozinho. E mesmo com medo de admitir e depois me arrepender, acho sim que posso aprender.

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