sábado, 31 de março de 2012

A afetividade torta

 Texto da psicótica Natália Klein


Acho que o maior problema dos relacionamentos contemporâneos é da ordem gastronômica. Da forma como eu vejo - e talvez esteja influenciada pela fome da madrugada - as pessoas são como grandes tortas de sabores variados. Algumas a gente bate o olho e já sabe que vai gostar, às vezes só pelo cheiro. Outras vezes, a gente segue a intuição e só depois descobre que é alérgico a nozes, ou pior, que a torta em questão curte sertanejo universitário.

Mas, ao contrário do que você possa estar pensando, o problema dos relacionamentos contemporâneos não reside no fato de que somos tortas gigantes. Tortas são bonitas e gostosas, na grande maioria das vezes - exceto nas festas de aniversário em escritórios no centro da cidade. A tristeza da coisa está na constatação de que estamos vivendo uma espécie de comidaaquilorização da afetividade. Isso significa que, devido a alta oferta de tortas no mercado, ninguém consegue se focar em apenas um sabor.

WWF Brasil - Hora do Planeta já começou no mundo

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sábado, 17 de março de 2012

Felicidade, tomates podres e Tom Jobim

Da psicótica Natália Klein.

Nós somos claramente responsáveis pelas consequências das nossas atitudes. Como há duas semanas, quando me dei conta de que tinha guardado a conta de luz de dezembro e esquecido de pagar. Foram três horas vivendo na Era pré-Thomas Edison, em um dia cheio de textos deixados para a última hora.

Nós também somos responsáveis pelo que dizemos - e pelo que deixamos de dizer. Sou pentacampeã mundial na categoria falar coisas horríveis sem pensar. E, na maioria das vezes, o arrependimento vem durante o vômito de palavras inconsequentes, raramente acompanhado de um pedido de desculpas. Porque sou hexacampeã em orgulho idiota.
 
Nós somos responsáveis - ou pelo menos tentamos ser responsáveis - por uma lista infindável de obrigações morais. Não conseguimos nem nos livrar daqueles que cativamos. Como decretou Saint-Exupéry em "O Pequeno Príncipe", somos eternamente responsáveis por essa gente. E eu sei bem disso, pois não suporto a ideia de que exista alguém no mundo que não goste de mim.
A justificativa para todas essas responsabilidades, incluindo a de ficar magra, bem vestida, ter um emprego apaixonante e uma pessoa incrível para amar e ser amado, é chegar a algo próximo do que se considera "felicidade".
 
Mas será que, assim como nossas contas para pagar, nós somos os únicos responsáveis por nossa própria felicidade?
 

Como as mulheres encaram o fim do relacionamento

 Texto das Malvadas

Mulheres e suas complicações amorosas. Por que é tão difícil recomeçar a vida depois do término de um relacionamento? Se foi ele que deu o pé na bunda então… Aí, meu amigo, é caso pra especialista tratar.

Por mais que ele diga que não gosta mais dela, e que está com outras prioridades no momento, a bichinha se tortura e se agarra na esperança que ele mude de ideia e volte amá-la intensamente.
Nisso, ela passa horas e horas olhando para o celular esperando algum sinal de vida. Abre os contatos e fica olhando o nome do sujeito. Quando tem tempo, relê todas as mensagens que já foram trocadas. Só as boas, claro. As que não interessam foram deletadas imediatamente.

Mulher quer se sentir amada por quem quer que seja e, quase sempre, por alguém que não lhe merece. Ela põe na cabeça que o indivíduo é o único que a fará feliz. Que engano, minha amiga. A única pessoa que pode te fazer feliz é você mesma!

Por mais que seja difícil encarar a realidade a mulher sabe que no momento em que ele partiu, jamais voltaria. E quando finalmente se dá conta disso só fica o questionamento de porque se deixou iludir tanto…
A partir daí, começa a fase de aceitação em que ela começa a agir estranhamente e analisa se realmente o ama. No começo fica meio receosa e incomodada por não o amar mais, mas definitivamente sabe que precisa encontrar alguém ‘melhor’. Nesse momento, fica extremamente feliz. Lembra de todas as brigas, discussões e cíumes e se sente livre. Sente um arrependimento de ter sofrido tanto.

É contraditório (e como não seria?), mas ela fica com raiva de si mesma por acreditar que, em algum momento, não poderia ser capaz de viver sem ele. Mal sabe ela, que sem ele, ela pode fortalecer a sua força, seu desejo pelo o que quer e, porque não, amar intensamente.

Num último ato, a mulher não se importa mais. Ela só quer que ele viva a sua vida da maneira que achar melhor. Ele a segurou, mas não por muito tempo. Ou por tempo demais, não se pode saber. A torturou, mas não para sempre. Ela voltou a sorrir e finalmente está livre.

sábado, 10 de março de 2012

Beautiful Dangerous (Slash feat. Fergie)

   
I don't know who you are now 
Mystery drenches my brain

Mulheres machistas

Texto mais que perfeito do Léo Luz

Pode parecer anacrônico, irreal, pode soar tão estanho quanto um canibal vegetariano ou um torcedor do Flamengo alfabetizado. Parece, mas não é, já dizia o Denorex. Mas, como uma mulher pode ser machista? Simples: repetindo discursos machistas de homens machistas. Voilá!
Quando uma mulher diz que outra mulher que fala abertamente sobre sexo, por exemplo, é uma vagabunda e não merece ser levada a sério, ela está repedindo o discurso machista de que homens podem falar sacanagem, mulheres não. Quando uma mulher chama outra de “vagabunda” por fazer sexo com quem ela quiser, ela esta novamente sendo machista, defendendo que homens podem ter vários parceiros, mas as mulheres não.
Mas por que isso acontece? Bom, dentro da minha detalhadíssima pesquisa científica de uma hora de observação no Twitter, percebi que esta atitude é típica de dois tipos de mulheres: as que costumavam ser de um jeito e hoje criticam aquele comportamento, e as que gostariam de ser daquele jeito, mas não tem coragem. Então, como elas não conseguem repetir aquele comportamento por algum motivo, elas o criticam. É a velha história do sujeito feio que diz que não liga para beleza nas mulheres, ou do magricelas que acha artes marciais brutas demais.
Aí, se você parar pra pensar, as mulheres machistas repetem um comportamento errado dos homens – o de serem machistas – e vivem a partir disso. Se não houvesse o julgamento da sociedade, elas não agiriam assim. Logo, o que podemos concluir com isso, amigos? Que, na maioria dos casos, as mulheres machistas querem somente uma coisa: serem aceitas em seu comportamento, e serem vistas como “modelos” de mulher aos olhos dos homens. O grande problema é que enquanto elas estão em casa, sendo mulheres boazinhas como manda a moral e os bons costumes, ela corre o sério risco de o marido ou namorado dela estar se engalfinhando com alguma daquelas mulheres que elas criticam. É a velha história: jogar tinta marrom no gramado do vizinho não vai fazer o seu gramado ser mais verde.

terça-feira, 6 de março de 2012

Romance à moda moderna



Ele não é nada romântico. Nunca falou eu te amo de sopetão. Jamais fez planos impossíveis. Jurar amor eterno então, hunpf.

No início eu achava que era apenas timidez e me consolei com essa desculpa, criada por mim mesma. E a ausência de romantismo não me desiludia. Apenas fazia pensar que era uma espera, que seria devidamente compensada com o tempo. Se ele dizia que eu estava bonita, agradecia, mas ficava esperando um é a mais linda que já conheci. Se ele sorria, aguardava um abraço desses de cansar de ficar na ponta dos pés.

Esperava o romantismo se manifestar e perdia todas as demonstrações mais sinceras de afeto. Idealizar o amor foi um desperdício de tempo. Queria ouvir declarações prontas, promessas absurdas, frases dignas de fim de filme. Esperava refrões de músicas, versos únicos. E querendo tanto, a frustração só era maior.

Queria exageros ditos de um jeito bonito, que parecessem exclusivos. Durante meses, ele dizia verdades e eu buscava clichês. Não entendia que o amor também estava escondido em silêncios e olhares inocentes. Em palavras comuns, sem lágrimas, comoção excessiva, sem Almodóvar.