sábado, 12 de junho de 2010

Amor de corinthiano

Depois de 66 anos, corintianos vivem como eternos namorados

Candinho, 86, e Anna, 83, se conheceram no Parque São Jorge.
Ele chegou a aspirante do time de futebol; ela jogava basquete.

Meu queridos leitores, apreciem esta história de amor, verdadeira e duradoura:
Namoro para valer mesmo é para a vida toda. Que o digam seu Candinho, de 86 anos, e dona Anna, de 83. Há 66 anos, duas paixões em comum, o amor pelo esporte e pelo Sport Club Corinthians Paulista, os uniram por toda uma vida. E desde então se tornaram eternos namorados para todo o sempre.

Tudo começou no longínquo início dos anos 1940. De lá para cá, são muitas histórias – alegres e tristes – compartilhadas. Inúmeras caíram no esquecimento, depois de tanto tempo. Mas os registros fotográficos, a grande maioria em preto e branco, auxiliam a memória para resgatá-las – e preservá-las.

E quando estes não são suficientes, os herdeiros correm para complementá-las, como se as tivessem assistido ou lido em uma antiga revista de fotonovelas. E, de todas as histórias, as preferidas – e que por isso não caem no esquecimento – são justamente as da época de namoro.
O flerte começou em 1943. Candinho, então com 19 anos, jogava futebol no Corinthians. Anna, com 17, praticava o basquete. “Ela estava jogando basquete quando eu a vi pela primeira vez”, lembra Candinho. De atrativo na moça, as pernas esguias, recorda. Mal sabia ele que também já estava sendo observado. “Eu ia vê-lo jogar futebol. O apelido dele era ‘Redinha’, porque ele usava uma redinha na cabeça nos jogos para prender os cachos”, entrega Anna.
Apesar da atração mútua, Candinho, por precaução, manteve distância. Afinal, Anna deixava todos os dias o clube abraçada com um rapaz vistoso, forte, de ombros largos. Que chance tinha ele contra um nadador, um tal de Luís da Silva, que havia conquistado várias medalhas pelo Corinthians? O jeito foi esperar.

Quando menos esperava, Candinho recebeu a boa notícia: “Era o irmão dela. Assim que fiquei sabendo que era apenas o irmão, fui para cima dela. Fui correndo falar com o pai dela.” Naquela época, para namorar, só com o consentimento dos pais. Ficar sozinhos, então, nem pensar. “Para sairmos juntos, tinha de ir alguém junto. No caso, era o meu irmão que ia”, conta Anna.
Enfim, o namoro teve início. Antes, apenas ‘relances’, uma espécie de gíria da época. “Tive namoradas de relance, mas a única mulher que amei foi você”, garante Candinho, virando-se para Anna e olhando-a nos olhos, para não restar qualquer ponta de dúvida mesmo após 66 anos. “Ele foi o meu único namorado”, devolve a ex-promissora de basquete.
Com o noivado engatado, Candinho fez questão de mostrar que não estava para brincadeira. “Parei de jogar basquete porque ele não quis mais que eu jogasse. Assim que pus a aliança, ele disse que não era mais para eu ir jogar. Ele era muito ciumento”, diz Anna.
O noivo, claro, continuou batendo sua bolinha no Corinthians. Chegou a aspirante a profissional, mas parou por aí. Para sustentar a casa, virou motorista de táxi, profissão que exerceu por mais de 50 anos. E nunca abandonou o futebol. No clube do Parque São Jorge, criou o Racha do Candinho - um grupo de amigos que se reúne aos domingos para jogar futebol há mais de 50 anos.
A paixão clubística acalentou ainda mais a união. “Somos corintianos”, diz, com orgulho, Candinho. Com tanta paixão junta, o casamento era questão de tempo. Aliás, quanto antes, melhor. E, em 1946, subiram ao altar para trocar alianças.
A partir daí, é uma outra história a ser contada: vieram os quatro filhos, as bodas de prata, os oito netos, as bodas de ouro e, por fim, os quatro bisnetos. Quer dizer, o último dos bisnetos chegou justamente na última terça-feira (8), como uma espécie de dádiva, já que o casal completava 64 anos de matrimônio nesta data.
O segredo de Cândido Soriano, o Candinho, e de Anna de Jesus Silva Soriano, a Anna - os verdadeiros nomes dos protagonistas desta história de amor -, para continuarem juntos por tanto tempo? A resposta está na ponta da língua de Anna: “Um tolerar o outro nas fases de rosas e espinhos. E, depois de 66 anos, continuamos vivendo como se fôssemos namorados.”

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